A figura da feiticeira é tão antiga quanto a própria humanidade, remonta aos tempos
pagãos e matriarcais, quando revestia-se de valores positivos. É descendente da Grande Deusa
Mãe e, no princípio, seu corpo jovem e sexuado é feito para o prazer e para a maternidade.
Segundo Brunel, “seu poder é total - preside a vida e a morte, vela pelas colheitas, governa os
elementos e também os homens” (p.349). Seu aspecto multifacetado a ligará a variadas
divindades femininas: “Ísis, no Egito; Istar, na Assíria, Astartéia na Fenícia, Innana, na Suméria. Sua
essência a conecta, ainda, a Circe, senhora das metamorfoses e a Cassandra, a grande vidente
(Brunel, p. 349). Mas as sociedades patriarcais cobrarão muito caro por essa plenitude, e o mito
será revestido de valores negativos.
De uma época de ouro, pagã e matriarcal, revestida de plenitude, adentra-se a decadência
e a degeneração que se impõe com o patriarcado. Ao longo dos tempos as feiticeiras foram
perseguidas, torturadas e queimadas vivas, foram objeto de bulas pontifícias e do terrível Malleus
Maleficarum, cuja sofística não deixava à acusada nenhuma possibilidade de defesa. O
cristianismo aliou-as à figura do diabo, a cujo culto estariam dedicadas. Envelhecida e
demonizada, a maga adentra o folclore e se oculta nos limites das florestas, colhendo plantas,
versando-se nos seus efeitos secretos e cozendo misturas poderosas.
(Ramira M. S. da Silva Pires)
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