sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas agüenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. Pense: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da fase passada. Sua dor já é dez segundos menores do que duas linhas atrás.

Você acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe.
A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, sei lá, fazer algo mais que se lamentar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz Como cantou Vinicius:
“É melhor viver do que ser feliz”.
Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Vai chegar lá na frente olhar pra todos e dizer:
Consegui, lutei e venci.
você vai olhar e sorrir de tudo isso que hoje te fez chorar e vai ver que realmente tudo isso valeu a pena, te fez mais forte, mais resistente. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto.

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

mar em furia

Certa vez,
o Mar desesperado
desiludido, sonhou que a Morte lhe rondava
feito um roda moinho.

Tragado pelas águas escuras
sugado por forças obscuras
foi salvo, "in extremis", pelo Amor de uma Sereia
que o amparando, reduzindo as águas, expulsou a Morte,
salvando assim o Mar de si mesmo.

Dez longos anos se passaram,
o Mar nunca mais se perdeu
e a Sereia, sonhada, entre as profundezas,
esquecida.. ...dormia.

Durante todos esses anos dormindo
a Sereia seguira seu triste Destino
o de aprender a amar, mesmo não existindo.

O Mar por sua vez fortalecido
mesmo se profundamente agradecido
se manteve sempre distante, daquele Amor quase Divino.

Tendo o Horizonte como destino,
e talvez por causa dos Ventos inconstantes
esqueceu, ou quem sabe nem percebeu
o que, um dia, no turbilhao do seu sonho
o salvara de seus medos..

e que uma Sereia-amor daquelas
uma Sereia sonhada,
só "existiria" ,( missão de toda uma vida.. )
no dia em que, ela por sua vez se perderia
nos braços do Mar, inundada.

(mas isso o Mar jamais saberia)

A Sereia, um dia sonhada
pelo tempo recompensada
no seu sono brincava...
pronta para o Mar

Mas um dia, dia de maré violenta
veio a grande Onda traiçoeira
e o Mar descuidado
nem percebeu, ou pouco se importou,
deixou por lá, no meio da areia
a valente Sereia semi adormecida

Fora d'agua,
desorientada a Sereia mal acordada
desconhecida para a Vida, esqueceu de respirar

E assim..

a Sereia inexistente
a Sereia invisível
jamais olhada
pronta pra ser amada

a Sereia salvadora
sem o Mar para ampara-la
pouco a pouco, sumia. ..

A Noite cobrindo o céu,
escureceu o Mar
e ao longe, o ultimo canto da Sereia
vindo dos grãos de areia, ecoou.

O Mar agitado,
um pouco incomodado
um pouco emocionado
...se calou.

E a partir desse dia
ele nunca mais sonhou.
Pat Lau

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Love u

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
Martha Medeiros

Maria Madalena

Madá, a santa Maria Madalena, apareceu hoje para tomar café na minha cozinha.Apareceu discreta, sem as pulseiras os colares e os brincos e a roupa esvoaçante. Nem perfume estava usando. Triste, tristíssima, encolheu-se no canto da mesa e sorveu o café em goles lentos. Depois me olhou e me chamou para ir com ela até o rio. Fui (quem ousaria contrariar uma santa?). Lá, sentou-se na margem e afundou os pés na água. As pedras são tão suaves, tão redondas, tão roladas. Por que os homens não sentam à beira dos rios em vez de jogar pedras em mulheres? Madá perguntou. Por que são uns tolos, respondi. Tolos e cruéis, ela respondeu, levantou-se e sumiu entre as árvores.
Marcia Frazão