sábado, 16 de outubro de 2010

Iemanjá

Mãe Cadinha comanda o terreiro guiando seus filhos com doçura e firmeza, sentada em sua cadeira de alto espaldar.
Nas festas de santo assiste a dança dos orixás, que já dançavam para sua bisavó, em tempos remotos, nas terras além mar.
Sábia senhora reconhece a manifestação de cada qualidade de Iemanjá.
Chega Soba, feiticeira, de costas, seu olhar terrível impossível de ser encarado.
Chega também Malelé, das águas profundas.
E repetem sua dança ancestral, tão antiga e sempre de renovada beleza, encantando a todos que assistem, encantando a ela também mesmo com os longos anos de zeladora dos orixás. Os encantados que encantam e fascinam.
Iemanjá, odoiá.
Todas deusas das águas. Faces da Deusa. Todas uma só.
Deusas, orixás, sacerdotisas, fadas, a força feminina em suas variadas formas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Telegrama

Ao desfazer a mala peço que vasculhe,
desembrulhe, olhe nos vãos,
procure também na valise de mão
e veja se por engano ou distração
não foi junto com teus livros
um pedaço do meu coração...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Celene

Mostrou seu nome pra ela assim: com letras de fogo. Não era Selene com S não, era com C mesmo, de Cibele.
E lhe contou muitas coisas. Como fazia para colocar o perfume dentro das rosas enquanto ainda eram botões, como preparava poções com a água do lago, como fazia tocar o sino dos ventos em sua varanda. E contou muitos outros segredos, coisas que não poderia revelar a ninguém, mas mesmo que falasse ninguém acreditaria .
Foi sua amiga enquanto era menina e, estranhamente, parecia que amadurecia junto com ela, seu rosto mudando, feições de moça, feições de mulher.
Um dia, enquanto tomava banho viu ela se aproximando e soube que viera se despedir. Seu vestido era rosa, antes estava sempre de azul. Percebeu que alguém a esperava. Um companheiro! Celene havia encontrado seu par. E intuiu então que também para ela havia chegado o tempo do amor...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E ainda hoje te guardo, entre colares e cheiros
antigos perfumes, bilhetes e fotos já quase apagados
uns restos
de amor e saudade...

Suave som......

Nossa vida com Afonsin


Acordei com ele chorando baixinho do meu lado
-Que foi Afonsin?
-É que...meu dragãozinho fugiu...disse com a voz entrecortada por soluços, não sei se sinceros ou fingidos.
Ele era assim, arteiro, gostava de misturar fantasia com realidade e como seu mundo já era meio mágico, nunca sabíamos ao certo o que era mentira e verdade, brincadeira, deboche ou pura fantasia.
Afonsin é um gnomo que veio morar aqui em casa já faz alguns anos. Chegou dizendo ser o verdadeiro dono do meu gato, mentira cabeluda.
Depois desdisse, redisse, voltou atrás. No final ficou, sem ter mais importância o motivo de sua vinda.
Ah, mas apronta demais! Bate com seu bastão nos cachorros para provocá-los, esconde as chaves, atira pedrinhas nos passarinhos, indo de contra a sua origem de protetor da natureza.
-Mas quem disse que sou gnomo? Sou só um pouco baixinho, a senhora também diz cada sandice, nem parece que estudou.
Fala assim pra confundir, justificar o injustificável: sua altura e peso 20cm X 20kg. Enrolão e mentiroso que só ele.
Um dia depois de uma discussão feia sumiu. Havia roubado o anel de uma amiga que nos visitou. Procura de lá, procura daqui, achamos no seu alforje de couro.
Negou, gritou, chorou - argumento que sempre usa quando perde a razão - acabou indo embora  "nos azeites" como se dizia.
E a casa ficou calma, silenciosa e ...triste, muito triste sem nosso Afonsin.
Clamamos, pedimos, imploramos, nada.
Uma semana de súplicas. Numa bela manhã de sol lá estava ele sentado no batente da porta. Cheio de melindres e exigências, agora que se sabia querido e necessário.
E assim a vida voltou ao normal, se é que se pode chamar de normal a vida com um gnomo, e dos mais levados que se tem notícia.
Qualquer ralho ameaça sumir, nos faz pedir perdão, dar presentes, fazer concessões.
Como não ceder a seus caprichos, se já não conseguimos mais viver sem Afonsin, o gnomo politicamente incorreto?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

dia da criança!!!

De pernas pro ar

Sabe aqueles dias que sente que o mundo, a vida, a casa, tudo, inclusive vc, está de pernas pro ar?