sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Martha Medeiros

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas. Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.


Marla de Queiroz

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Bloco Do Prazer

Pra libertar meu coração
Eu quero muito mais
Que o som da marcha lenta

Eu quero um novo balancê
O bloco do prazer
Que a multidão comenta

Não quero oito nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?

Mama mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina

Na fina flor do meu jardim
Assim como carmim
Na boca das meninas

Que a vida arrasa e contamina
Engasga e embala o balancê

Vem meu amor feito louco
Que a vida tá curta
E eu quero muito mais

Mais que essa dor que arrebenta
A paixão violenta
Oitenta carnavais
Gaia

Você sabe como eu sou desocupada,
que me encerro neste quarto e me permito
todas as divagações, fantasias
obsessões, todos os dias.
Você sabe que eu me viro de inventos,
que eu me reparto e dou crias,
que eu mal me resolvo e me aguento,
carrego pedras no bolso
e enfrento ventanias.

Você sabe como eu sou desorientada,
raciocíno pelo instinto e cometo
fugas de ladra

e percorro superfícies
em que você escorregaria

Você sabe como eu sou de subsolos,
subterfúgios, de subversos subliminares,
como eu sou de submundos
subteraneos, de sub-reptícias folias,
meio de circo, meio de farsa
ervas, panfletos, fluídos, presságios,
quebrantos, jeitos, gírias,
de sensações e cismas,de filosofias.

De como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos,
atmosférica e vadia,
gato da noite, de crises.


Que eu sou de todas as misturas
todas as formas e sintonias
e enfrento esse aperto, essas normas,
forças, pressões, imposições,
o silêncio da maioria.

Você sabe de toda minha luta
mesmo quando a intenção silencia
que eu não cedo, não desisto
a todo custo, a toda faca, a todo risco
eu sobrevivo da paixão e de anarquia.

Você sabe bem da minha fraude
Você conhece as minhas alquimias.

Bruna Lombardi

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada.
(Dama da Noite)
Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

pin ups


Elogio do Pecado ...

Ela é uma mulher que goza
celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza

você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.

É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa

Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa.

Bruna Lombardi

domingo, 20 de fevereiro de 2011

“Passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca para chamar de amor, como se fosse algo simplificado: defina em meia dúzia de frases, é fácil querida.
É fácil? Pois a querida não entende como uma palavrinha tão simples formada por apenas duas vogais e duas consoantes pode absorver um universo de sensações contraditórias, diabólicas, insensatas, incandescentes e intraduzíveis. O que é amor? Já tentei explicar a mim mesma e, por mais que tente, jamais conseguirei atingir e essência dessa anarquia que dispensa palavras.”
Martha Medeiros
Fora de mim