sábado, 5 de fevereiro de 2011

casa de praia

Nessa casa passei todas as férias da minha juventude, e hoje, não sei se é o vento, o cheirinho de mato que ele traz, alguma coisa está me deixando nostálgica.
Sento no banco da varanda, o mesmo banco de muitos verões, e revivo momentos felizes. Os tristes tentaram se chegar , mas evitei sua companhia falando: "hoje não, por favor, voltem outro dia".
As luzes do cair da tarde são tão outras, e no entanto são as mesmas na retina da minha memória.
Ao longe batuques de carnaval.
Me vejo entrando pelo portão com 17 anos, sorrindo, cheia de planos. Fico calada, sem coragem de dizer que sou seu futuro...

Encontro

Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.
Rubem Alves

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mário Quintana

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente, e não a gente a ele.

Ninho...

Sobre o tempo do amor...

Foi tirando o vestido sem delicadeza. Despedir-se deveria ser daquele jeito: arrancando de si até o último grão de coragem, sem dramas. Sabia que no sexo, o adeus acende os corpos para incutir na memória a beleza do inesquecível. Por isso deixaram-se reger pela fome de cheiros e jeitos e encaixes. Sugavam ávidos a intimidade que tiveram outrora, quando havia encontro. Mas aquela dança desarmonizava-se tão destituída de alma. Tudo que antes fora abundante no desejo deles, naquele instante era fugitivo. Mesmo sabendo findo, procurou ainda uma fagulha de amor nos olhos dele, examinou aquele corpo em busca de qualquer lugar que ainda não evidenciasse a desistência. Em vão. Não havia mais no toque o contato com a essência. Restava consumir a chama de um resto de afeto na consumação do ato. Naquele enroscamento sem abraço.Aquela seria de fato a última cena.

Inaugurou um novo capítulo: uma garoazinha de tristeza, uma saudade entreaberta, e o vento aborrecido. Sudoeste querendo abraçar tudo. E ela vagueando por aí sem nenhuma palavra que arranhasse o silêncio. O tempo contido nas coisas, os dias aprisionados na ansiedade já não deslizavam pelo calendário. Esperança já nem suspirava. Não havia espera de nada, apenas a companhia corriqueira: ela e a solidão_ mão com mão, rostos sem face. Já não desejava amores nem intrigas de paixão alguma: sossegou-se na solitude aceitando aos poucos o tempo alargado para se preencher com improvisos, sem horários rígidos, sem avisos. Preencheu de paz o espaço novo do coração esvaziado.

(Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem). E no auge da sua descrença o dia amanheceu de novo. Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranqüilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade.

O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
(O Tempo estava certo.)

Marla de Queiroz

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pedaços de Mim

"Eu sou feita de
sonhos interrompidos
despercebidos detalhes
amores mal resolvidos

Sou feita de
choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por um instante


tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir, para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
de pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
mas continuo vivendo e aprendendo. "

Martha Medeiros

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ano novo

O que eu desejo para o novo ano é suavidade. E um bocado de alegria. E desejo também perdão: a mim mesma que sou passível de erros, mas que não preciso e não devo viver mergulhada na culpa. Desejo também carinho: uma alma acariciada fica doce, desvendada, amorosa. Desejo coragem, porque o medo paralisa e impede a melodia nova e é preciso arriscar para continuar (re)criando harmonias. Desejo muita inspiração, porque as palavras sempre me fizeram a companhia mais maciça para a solidão genuína que sinto. E foram elas que consertaram muitas dores ao longo da minha caminhada, coisas que só pude curar investigando, compartilhando, tendo aqui meus cinco dedos de prosa com vocês. Desejo um pouco de disciplina, pois um ser criativo precisa de rebeldia, mas também de horários e planejamentos. Desejo desapego pelas pessoas, mas um pouco mais de ambição material porque ninguém sobrevive apenas de metafísica. Desejo maturidade. Quando se tem maturidade, dá-se melhor o valor que tem cada coisa, sem supervalorizar o que é irrelevante ou subestimar um pequeno aprendizado. Desejo muita paz: um coração sossegado entrega-se com mais confiança. Desejo saúde e disposição. Desejo proteção espiritual. E desejo continuar sendo merecedora dessa boa sorte de falar e poder ser atentamente ouvida, de calar e ser respeitada, de amar e ser correspondida, de atrair pessoas de coração bom e muita sensibilidade, e de poder descobrir a cada dia que a verdadeira erudição está na simplicidade.

Marla de Queiroz
Iemanjá
Já mandei preparar o saveiro
Pra no dia dois de fevereiro
Lhe mandar presentes
E também muitas flores
Além de perfumes
Com muitos odores
E vai ter batuque pra lhe cultuar

Iemanjá
Iemanjá, desperta!

Martinho da Vila

2 de fevereiro

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Neruda

Saudade
Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Salvador

domingo, 30 de janeiro de 2011

O culto à Deusa

Wicce: girar, dobrar, moldar

"Para as bruxas, Deus é mulher. As novas bruxas são feministas, femininas e ecológicas. Acreditam na força da magia e na divindade mais velha do mundo, a Deusa. Senhora da lua, ela regula as marés, os partos, o cio e o humor instável das mulheres e apresenta-se em três aspectos principais: a virgem, associada à lua crescente, aos impulsos e à alegria dos começos; a mãe, grande nutridora associada à plenitude feminina e à lua cheia; e a anciã, que simboliza a velha sábia, representada pela lua minguante. Mas a Deusa também é associada à Terra, mãe dos bichos, dos homens e das colheitas —ou dos terremotos e das tempestades devastadoras. A Deusa personifica o feminino sagrado, o princípio criativo que ama e conecta tudo, incluindo o bem e o mal.

As bruxas não acreditam em diabo —uma invenção cristã, segundo elas. Nem fazem rituais satânicos. Para o bruxo Claudiney Prieto, “não existe magia do bem e do mal. A magia é uma só. O que define resultados negativos ou positivos é a ação do bruxo. O mesmo remédio pode curar ou matar, dependendo da intenção com que é manipulado”, explica Prieto, primeiro brasileiro a lançar um livro sobre o tema, autor de “Wicca, a Religião da Deusa” (editora Gaia). Segundo ele, o que vale para os bruxos é o princípio da polaridade: “O bem e o mal estão dentro de nós, não fora. Todos os seres contêm o negativo e o positivo, o feminino e o masculino”, conclui.

Para ingressar na religião, as bruxas wicca fazem um juramento e têm que se sujeitar às leis da feitiçaria. O dogma principal reza: “Faça o que quiser, desde que não faça mal a ninguém”. Quem desobedece pode ser expulso do grupo. Outro regulador natural é a “lei tríplice”, que garante que “tudo o que uma pessoa faz de bom ou mal volta para ela triplicado”.

O movimento wicca, que congrega as feiticeiras modernas no mundo todo, é na verdade um resgate da bruxaria, uma das mais antigas religiões do Ocidente. A deusa que as bruxas cultuam também é conhecida como a Grande Mãe, a mais velha de todas as divindades (cultuada desde o período paleolítico, 25 mil a.C.), e se manifestou em várias civilizações, com formas e nomes diferentes —como Ishtar, Ísis ou Ártemis — antes que o poder feminino fosse soterrado pelo patriarcado e que as bruxas fossem condenadas à fogueira.

Segundo os estudiosos, o arquétipo da Deusa é a fonte original de todas as divindades, incluindo Nossa Senhora (freqüentemente representada num pedestal com a lua crescente). Mas para a deusa pagã (não-cristã), a sexualidade é reverenciada como um poder criador, desvinculado da noção de pecado. Seu parceiro, o deus Cornífero, é símbolo da natureza intocada e dos animais selvagens. Representa a fertilidade e o vigor sexual.

A bruxaria moderna é baseada na mitologia celta (povo que vivia em 700 a.C. onde hoje é a Escócia, Irlanda e norte da Inglaterra) mas utiliza elementos de várias civilizações primitivas e muitas vezes recorre às teorias do psiquiatra Carl Jung, que utilizou a mitologia para explicar a psique humana.

Uma das maiores habilidades da bruxa é saber direcionar a energia inesgotável da natureza a seu favor —como indica a origem da palavra wicca, do inglês arcaico wicce, que significa girar, dobrar, moldar. Os feitiços não utilizam sangue ou animais, mas símbolos mágicos e invocações aos deuses da natureza. Com esse caráter libertário, a bruxaria seduziu as feministas americanas nos anos 70.

Foram elas que deram o maior impulso ao movimento depois de a religião ter sido resgatada da clandestinidade pelo bruxo inglês Gerald Gardner, que ousou publicar um livro em 1949, dois anos antes de cair a última lei contra a bruxaria na Inglaterra. No Brasil, as bruxas —identificadas pelos seus colares e amuletos com uma estrela de cinco pontas— estão sobretudo no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Elas se reúnem nos chamados covens, grupos organizados que ensinam e praticam a Arte, um dos muitos nomes da bruxaria, também chamada de Antiga Religião ou Religião da Deusa.

Fontes: “Wicca - A Religião da Deusa”, de Claudiney Prieto (Editora Gaia) e “O Poder da Bruxa”, de Laurie Cabot e Tom Cowan (Editora Campus)

Por Déborah de Paula Souza e Valéria Martin

ceu

Drummond

NÃO DEIXE O AMOR PASSAR

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.

Carlos Drummond de Andrade